Ogum!

Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior.

Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área de lavoura. Ossain, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossain, todos os outros Orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio. Ogun, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os outros Orixás tinham fracassado, Ogun pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os Orixás, admirados, perguntaram a Ogun de que material era feito tão resistente facão. Ogun respondeu que era o ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os Orixás invejaram Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, como à caça e até mesmo à guerra.

Por muito tempo os Orixás importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si. Os Orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca do que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogun aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogun pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua ança de ferro. Mas, apesar de Ogun ter aceitado o comendo dos Orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os Orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogun se decepcionou com os Orixás, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da arvore de Acoco e lá permaneceu. Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro, celebravam a festa de Uidê Ogun. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum.  Ogum é o senhor do ferro para sempre. 

 

          Ogum é o Orixá da Lei e seu campo de atuação é a linha divisória entre a razão e a emoção.  É o Trono Regente das milícias
celestes, guardiãs dos procedimentos dos seres em todos os sentidos.

          Ogum é sinônimo de lei e ordem e seu campo de atuação é a ordenação dos processos e dos procedimentos.  O Trono da Lei é
eólico e, ao projetar-se, cria a linha pura do ar elemental, já com dois pólos magnéticos ocupados por Orixás diferenciados em  todos
os aspectos.  O pólo magnético positivo é ocupado por Ogum e o pólo negativo é ocupado por Iansã.

          Esta linha eólica pura dá sustentação a milhões de seres elementais do ar, até que eles estejam aptos a entrar em contato com
um segundo elemento.  Uns têm como segundo elemento o fogo, outros têm na água seu segundo elemento, etc.  Portanto, na linha
pura do "ar elemental" só temos Ogum e Iansã como regentes.

          Mas se estes dois Orixás são aplicadores da Lei (porque sua natureza é ordenadora), então eles se projetam e dão início às
suas hierarquias naturais, que são as que nos chegam através da Umbanda.

          Os Orixás regentes destas hierarquias de Ogum e Iansã são Orixás Intermediários ou regentes dos níveis vibratórios da linha de
forças da Lei.

          Saibam que Oxalá tem sete Orixás positivos e outros sete negativos (todos Intermediários), que são seus opostos, e tem sete
Orixás neutros; Oxum tem sete Orixás intermediárias positivas e tem outras sete negativas, que são suas opostas; Oxossi tem sete
Orixás intermediários positivos, sete negativos, que são seus opostos, e tem sete outros que formam uma hierarquia vegetal neutra e
fechada ao conhecimento humano material; Xangô tem sete Orixás intermediários positivos e tem sete negativos, que são seus
opostos.  E o mesmo acontece com Obaluayê e Iemanjá.

          Agora, Ogum e Iansã são os regentes do mistério "Guardião" e suas hierarquias não são formadas por Orixás opostos em níveis
vibratórios e pólos magnéticos opostos, como acontece com outros.  Não, senhores!

          Ogum e Iansã formam hierarquias verticais retas ou seqüenciais, sem quebra de "estilo" , pois todos os Oguns, sejam os
regentes dos pólos positivos, dos neutros ou tripolares, ou dos negativos, todos atuam da mesma forma e movidos por um único
sentido: aplicadores da Lei!

          Todo Ogum é aplicador natural da Lei e todos agem com a mesma inflexibilidade, rigidez e firmeza, pois não se permitem uma
conduta alternativa.

          Onde estiver um Ogum, lá estarão os olhos da Lei, mesmo que seja um "caboclo" de Ogum, avesso às condutas liberais dos
freqüentadores das tendas de Umbanda, sempre atento ao desenrolar dos trabalhos realizados, tanto pelos médiuns quanto pelos
espíritos incorporadores.

          Dizemos que Ogum é, em si mesmo, os atentos olhos da Lei, sempre vigilante, marcial e pronto para agir onde lhe for
ordenado.